há em mim uma forca
que não resiste ao peso
uma arma que não dispara
uma lâmina que não corta
não estou viva
nem morta.
terça-feira, 28 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Inscrita.
Diante da encruzilhada
ela se despacha
na escolha de uma nova trilha.
Nada é fácil
quem disse que viver seria?
Deixar pra trás
muito do que se ama
faz parte da trama.
O medo da águia que se lança no abismo.
Eu cismo.
E finalmente
jogo corpo e alma no desconhecido.
ela se despacha
na escolha de uma nova trilha.
Nada é fácil
quem disse que viver seria?
Deixar pra trás
muito do que se ama
faz parte da trama.
O medo da águia que se lança no abismo.
Eu cismo.
E finalmente
jogo corpo e alma no desconhecido.
sábado, 25 de maio de 2013
A propósito da História dos Brinquedos 3*
A gente já sabe disso
quando nasce...
mas quando vejo
a criança ir embora
embora eu saiba
que já é hora,
diacho...
é esse riacho
lavando a face!
*Para Clarisse, Rebeca e Helena, meus eternos brinquedos
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Homenagem a A., uma triste história de amor e ódio
Obra de León Jean Basile Perrault em www.allposters.com.br
Éramos amigos e tínhamos 16 anos. Ele se apaixonou.
Depois de muito ensaio, dúvida, medo, resolveu contar para a
mais antiga amiga o que acontecera:
- Mãe, acho que estou gostando de alguém...
Ela, entre enciumada e orgulhosa do filhote, respondeu rapidamente:
- Que não seja uma
pirainha, meu filho...
Não era. Estava apaixonado pelo melhor amigo.
A mãe lhe disse que esquecesse essa bobagem. Que tirasse
isso da cabeça. Que lhe tiraria da escola se fosse necessário. Que seu pai
ficaria furioso se descobrisse.
Apaixonado, não conseguia pensar em outra coisa ou pessoa.
Lhe agradava profundamente a voz, o modo inteligente, expressivo, espontâneo
e bonito do amigo...
Logo o pai descobriu e o interpelou. Ele respondeu com a
audácia de um menino de 16 anos apaixonado. Tomou uma surra. Suas roupas foram
jogadas na rua: expulso de casa.
Era 1989. Não compreendíamos qual era o crime de gostar ‘de
meninos e meninas’. Cantávamos a plenos pulmões que éramos tão jovens e que era
‘preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã’. Ele se virou. Amigos lhe
deram guaridas temporárias, mas era preciso arrumar um trabalho de tempo
integral. Largou da escola.
O tempo passou. Eu me casei, tive filhas. Ele, depois de
muitos trabalhos, empregou-se no Correio. Conheceu outro rapaz, com quem se
uniu. Compraram um apartamento na COHAB, estavam felizes, tinham planos. Abrigaram
um gato de rua e ajeitaram com flores e cactos a casa pela qual ainda pagariam
por muitos anos. Era 1993. Tudo parecia bem.
Uma tarde, voltando para casa, um acidente de carro, ele na
calçada: atingido. Não houve tempo de desviar. E perdi um amigo.
Morrer faz parte, já sabia, ainda que doesse muito. No
velório, cantamos nossa dor: “é tão estranho, os bons morrem jovens”. O viúvo, hostilizado
pela família de A., sofria duplamente.
Depois disso ainda fui à sua casa, chorei com ele ao saber que
a família de A. entrara com um processo para despejá-lo do apartamento, que estava em nome do filho morto.
Em 1998, por mandado da Justiça(?), a família de A., que um dia o colocou na rua, surrado e humilhado por amar um homem, teve definitivamente o direito a ficar com o espólio do filho.
Em 1998, por mandado da Justiça(?), a família de A., que um dia o colocou na rua, surrado e humilhado por amar um homem, teve definitivamente o direito a ficar com o espólio do filho.
Hoje é o dia contra a homofobia. Escrevo para homenagear meu amigo, um homem de bem que só queria amar e ser feliz. E para seu viúvo, que hoje felizmente refez a vida em São Paulo.
Já não sou mais ‘tão jovem’. O tempo passou rápido. Preciso tentar impedir que alguns lances dessa história se repitam, lutando contra a homofobia
e o reconhecimento pleno da União Homoafetiva. Porque todo dia é dia
de amar.
(Um dia te encontro, querido A. E cantaremos juntos que “o
sistema é mau mas minha turma é legal/ viver é foda, morrer é difícil...”. E
faremos um filme mais feliz.)
sábado, 11 de maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
Do puro mal
Vem crescendo,
entre a carne e a rija unha
um verme torpe e irritante,
filho de uma seta.
Diria o mais rígido poeta
que não é imagem que se projete,
mas é exatamente a que me ocorre nesse instante...
Fico cega, enrijecida e sem desejo,
como quem já não quer da vida o cume
pois me rouba o amor sentido, num cortejo,
o abominável verme do ciúme.
sábado, 4 de maio de 2013
Pra te celebrar*
quando pintaram a tela
não sei se terror ou festa
preparavam aquelas duas...
vestido verde floresta
que deixava as outras nuas
duas meninas dançavam!
são três meninas tão doces:
duas posam na janela
denunciando um mar
intenso sob a'quarela...
como não amar
o lindo olhar
e Mirella?
*poema para Mirella Miranda, por seu aniversário
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Carta pra mim
Então você se encanta. Conta as horas, acata o coração.
Então você move ventos e vidas, você voa, vai atrás.
Então o tempo passa.
E o tempo pára com você e te faz descobrir que há algo a dizer.
Então você passa. E percebe que não há ninguém pra ouvir
o gemido surdo
do medo no seu peito confinado.
Então você desencanta.
Pudesse e arrancava o coração.
Você estanca, as horas não passam.
Você se verte e encharca o chão.
No espelho das palavras não se encontra,
olha para o céu e vê magenta.
Não importa o tempo, querida,
há tempos você não se aguenta!
Então você move ventos e vidas, você voa, vai atrás.
Então o tempo passa.
E o tempo pára com você e te faz descobrir que há algo a dizer.
Então você passa. E percebe que não há ninguém pra ouvir
o gemido surdo
do medo no seu peito confinado.
Então você desencanta.
Pudesse e arrancava o coração.
Você estanca, as horas não passam.
Você se verte e encharca o chão.
No espelho das palavras não se encontra,
olha para o céu e vê magenta.
Não importa o tempo, querida,
há tempos você não se aguenta!