domingo, 26 de setembro de 2010

Domingo

arrasta a sandália até a feira
volta sacolas, sacolas, calor.
roupa na máquina
roupa pro varal
depois passar roupa, passar calor
prepara peixe
serve no vapor
vapor da face
calor
calor
lava o lavabo
seca a garganta
cala-se em calor, calor, calor.
inventa sucos
e sobremesas
recebe os pares
debate a sorte
cola frases
ignora cansaços
o dia cai
e ainda
há que se fazer provas
há que se corrigir coisas
é noite
mosquitos zunem a vida que não atrasa
quando tudo já parece morno
ferve nela
a segunda-feira.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Contrariado


Quando sonhou desgosto
Agosto era
Nem percebeu que o medo era o gosto que lhe ardia.

Depois,
descompostura no seio
da aurora:
Amanheceu silêncios e esporas

Agora verte-se
E o corpo trêmulo
por frio e fúria
flutua.

Secos olhos
E dores inaudíveis

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Desencontros

quando a bela
adormecida
no banco de trás
teve que descer
esqueceu o sapatinho.

voltei pra devolver
mas ninguém havia
além de cães falastrões
e um vento forte.

desolado deixei
seu par de sapatos
na caixa de correspondência.