terça-feira, 27 de setembro de 2011

calçada com meias palavras

sou ouvidos
o que ouço me altera
a libido e a razão
o que não ouço dá espaço
a vozes outras
que me doem mais que um não
por isso,
também sou boca
e falo sempre
falo muito
mesmo que seja pra dizer que não
queria ter dito o que disse,
mesmo que seja pra dizer que não
estou indo,
mesmo que seja pra dizer que não
acabou.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

em desalinho

quando a tristeza me cala
me cubro de impressões dormentes
invento adeus, ignoro deuses,

cerro os dentes...

quando a tristeza me cala
arrumo a mala
pra partir de mim e do que mais me afete.

quando a tristeza me cala
desarrumo a sala
e jogo o lixo para cima do tapete.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

manual

mãos
faço delas o instrumento pra que meu amor se revele,
muito as uso
em cabelos e onde houver pele
abro picadas e trilhas
nos entres, virilhas
espalho-me feito chuva
por joelhos e cotovelos
peles fazendo-se luva.

minhas mãos amam mais que eu
por isso, dos braços em que pendem,
construo sem hesitar
casas que não se vendem
e exclusivos portos de se ancorar.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

abrindo o jogo

Haja hoje no meio de tanto ontem
e fumaça de amanhã.
Que essa sexta seja santa
e serei sua,
se quiseres
(que o que se sua à noite
são amperes pr'outro dia...)
santa seja essa energia
de que em ti me recarrego.

Haja hoje novamente...
eu me rendo e me entrego.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

último ato

quando sobre mim
deixou-se cair
aquele perfume materializado carne,
expirando em meu pescoço
de tal forma delicada
de tal forma displicente
tão inquieto e tão silente,
meu coração tambor
espalhado dos pés à cabeça
não se quedou espantado:
aquilo seria amor
não fosse apenas
teu desejo sublimado.

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro

Esta data não me toca mais que outra data
 - conheço um pouco de história,
e talvez por isso
minha emoção a esse dia ignora.


o silêncio e a reverência
por vítimas de violência
imperam em mim
todos os dias da minha vida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futuro Blue*

Sorte daquele
que de amor já foi
doador e pedinte
e mesmo aos quarenta
não se acovarda e ama
como tivesse vinte.

* para um amigo desorientado.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Comemoração

Já tenho
cento e trinta e nove olhos
voltados pra dentro
e comendo por gosto
minha carne e minha alma.

domingo, 4 de setembro de 2011




a lua alta
vinho e Piazzola
em tempos de alma
e alegria estreita
compuseram
a noite perfeita